AEEN_Escolas.jpg

Uma herança que é em si mesmo um projeto educativo e político

Nos dias 26 e 27 de setembro, em Palermo, capital europeia da cultura decorreram dois intensos dias de conferências sobre a importância da herança cultural para a educação e para o desenvolvimento de projetos com os alunos assentes na riqueza desse património cujo valor, sendo histórico, antropológico e filosófico, se torna cada vez mais político e económico. O recurso ao ensino da herança cultural pode e deve ser a resposta política aos novos desassossegos que tomam conta da Europa.

Neste encontro foram reforçadas ideias que devem ser orientadoras da gestão e dinamização de práticas educativas e de projetos nas escolas e, sobretudo numa escola que é Centro UNESCO, a saber:

- Levar os alunos a discutir o património tangível e intangível a partir dos recursos e vestígios existentes no meio e contexto onde a aprendizagem tem lugar;

- Promover práticas que consolidem a experiência do reconhecimento do outro pelas semelhanças culturais que os unem, mostrando como a diversidade é mais aparente do que real, dado que a origem cultural, e sempre confluente de várias formas de entender o mundo, torna-nos a todos mais próximos do que distantes uns dos outros;

- Reforçar e descobrir, com base em textos fundamentais e práticas de vida, elementos de semelhança que ancorem mecanismos de controlo e combate do medo e dos nacionalismos emergentes para pôr fim à «guerra fria» que se vive hoje no seio da própria Europa entre nacionais e estrangeiros;

-Descobrir a herança cultural para com ela encetar a primeira viagem pelo mundo, num mundo de entendimentos com o diverso em que a diferença não seja o problema mas parte da resposta;

- Mostrar como toda a identidade não é natural, é construída e reconstruída a partir de encontros no tempo e no espaço; é resultado de compromissos, é dinâmica e pode ser reconstruída e gerar outros entendimentos sociais e políticos. A identidade nunca é uma mera expressão institucional ou legal, como tem sido entendida desde meados do século passado, ela é sempre um exercício partilhado da História, da Cultura e dos Valores.

Nesse sentido, mais do que reconhecermos que vivemos numa sociedade global, é fundamental lembrar e ensinar que a herança cultural tem uma matriz comum e plural que nunca foi apenas local. Todo o mundo foi sempre uma grande Sicília, quer dizer um lugar de muitos lugares, um encontro cultural do disperso e diverso que o Homem foi criando e recriando para dar sentido e forma à vida em grupo e ao viver em comum.